




Espaço aberto para expor aquilo que não nos é permitido fazer ou ser. Um contraponto que usa um poder além da voz para atingir a faca que corta a sua própria garganta. Território livre para se falar o que for preciso desengasgar a qualquer momento, sem travas, sem mágoas, com alma, sem medo...
-Ai tá bom, mas não me enche o saco que eu quero ir embora logo...
- Eu só vô querer a batata, tá mãe?!
-Sei lá desse passa-fome! Só quero que ele tire esse monte de entulho da minha frente.
Moça com um bebê na janela...
Na favela...
-Olha lá, olha aquela minina, nem tem peito e já tá de barriga.
- Hã!?!
Falarei aqui como um indivíduo em constante conflito consigo mesmo. Acho que as palavras mais recorrentes em meus posts (pelo menos na idéia) são Hipocrisia e Incoerência. Eu as uso bastante pois, em se tratando deste que voz fala, a hipocrisia e a incoerência regem, voluntariamente ou não, boa partes das minhas ações. Neste ponto acho que a citação acima casa bem com o que irei questionar.
A frase de Glauber é bem amarrada e lá a situação se resolve. Porém, devo por em questao a relação ação x pensamento. Como disse, falarei como um individuo, nao coomo integrante de um grupo ou algo do tipo. Não que eu acredite que o modo correto de agir seja individualmente, como se o coletivo fosse formado pela soma de ações individuais mas, neste instante devo confessar que diante de algum cenário caótico, onde a harmonia não se encontra ou o comprometimento (pelo menos da forma em que eu o entendo) não é geral ou ao menos explicito do modo ideal , alguns indivíduos devem agir como o fiel da balança.
Muitas vezes me pego maquinando a Revolução, e ela em minha mente é perfeita desde a trama, passando pela execução e chegando às suas benéficas conseqüências. Mas, ao me deparar com as pessoas nas ruas, ou mesmo no meu círculo familiar, vejo que as coisas não são tão simples e maravilhosas. Querendo eu admitir ou não, o capitalismo e sua lógica já está naturalizado por grande parte da população mundial. Conversando com as pessoas, vejo que elas não concordam com muitas coisas no sistema, todavia as mesmas racionalizam sobre sua necessidade de viver e sobreviver da melhor forma possível, crendo que devem batalhar para subsistirem vendendo suas almas aos seus exploradores - que também pensam em grande parte das vezes que nao estão causando mal, que apenas estão agindo para não serem consumidos pelo mercado ou coisa que o valha - e achando que o mundo é assim, que o homem é o lobo do homem, etc. E aqui não nego que há empresários fdps e que o dinheiro muitas vezes traz consigo um vislumbramento que altera o modo de ver as coisas, atingindo inclusive os valores e a ética moral das pessoas. Mas eu vendo de fora e diagnosticando é muito fácil. O que me intriga é pensar no que fazer para quebrar esta lógica naturalizada. Este modus operandi maléfico que desde sua raiz é opressor e excludente, como que se estivéssemos num mundo arquitetado pela seleção natural de Darwin ou com a meritocracia de Lamarck, e nossa luta diária devesse ser pela sobrevivência. Ao andar pelas ruas vejo no olhar das pessoas a falta de perpectivas de mudança (não só em suas vidas no ambito pessoal, mas no mundo como um todo!).
Mas de que adianta minhas elucubrações? Eu não consigo tapar os olhos e dizer que está tudo bem , todavia, também me sinto impotente. Talvez possamos responder á essa impotência agindo politicamente.
Partindo da noção primária do que é Política, que, resumidamente, podemos atribuir sua emergência à ocorrência de uma experiência comum que se fixou como uma idéia. Tal experiência foi o surgimento da Polis na Grécia antiga. Ou seja, o termo Política, não designa coisas como qualquer tipo de governos sob qualquer forma de poder. A Política por excelência é a consequência da criação de um espaço público comum, onde os iguais se relacionam, e estes iguais são grupos que são trocados de acordo com o espaço e o tempo, pois conforme a "História vai se acontecendo" mudam os grupos de interesse/poder e estes fazem o que julgam ser o mais apropriado para si ao se apropriar de tal espaço. Política em seu modo cru, sem más apropriaçoes, e aqui faço sim juizo de valor, é o âmbito da persuasão, onde os iguais debatem, e já sabemos que não nascemos iguais, a igualdade é uma vitória a ser conquistada politicamente. Uma coisa é viver sendo aceito como existente (os negrios existem - isso é biológico) outra coisa é ter voz - aqui é política. Não nego que entre os gregos os iguais eram os cidadãos, assim o que havia era a excluão das demais categorias. Mas, pensando na política no que posso chamar de sua gênese, encaminho aqui para que não se perca a oportunidade uma breve reflexão sobre o que entendo por Coletivo.
Nos vendo como iguais, partilhamos das mesmas habilidades e potencialidades, o que indica que todos podem fazer as mesmas coisas sempre; não há como negar que o resultado talvez não apresentará o que o indivíduo teria de diferencial para mostrar (e sabendo-se que não se deve monopolizar as expectativas de resultado), porém o mesmo senso de coletivo deve ser partilhado por todos, e isso não só para que se superem as paixões individuais, mas porque tal senso possui em seu DNA dois genes o da confiança e o do comprometimento. Assim, todos devem aceitar sua responsabilidade para com o projeto encaminhado. Agindo dessa maneira se supera a lógica, simplesmente porque ela se fará desnecessária, da divisão de trabalho. O que deve haver é uma sincronia harmonica e não uma dependência coletiva. No final tem-se algo que é de todos para um todo maior ainda.
Mas infelizmente a teoria enfrenta o problema da prática. É inocência pensar que divergências não virão, elas virão sempre, e deve-se ser maduro para saná-las. Porém, quando elas fiam implícitas, veladas, escondidas, e as partes envolvidas não as põem em conflito no espaço público, chegamos no mesquinho embate entre o pseudo-culpado e a autoproclamada vítima. Deve-se superar isso, se não se está indo bem, como o trabalho é coletivo, a culpa é coletiva! E geralmente o que está em jogo são os dois genes, o que me leva a dizer que somente é legítimo cobrar das pessoas, nestes dois pontos na confinça que ela deve ter e manter em seus iguais e o seu comprometimento que deve ser sincero com o projeto.
Ou isso, ou vamos para o que é mais fácil, dividir funções, posto que o que os une é o compromisso comum com o projeto, principalmente quando este tem um cunho politico, que será percebido em seus resultados. É uma pena, mas é um modo de resolver as coisas.
Após estas necessárias digressões retoma a questão: como agir e pensar politicamente? Sem deixar de reafirmar que agir politicamente para mim é agir coletivamente, e tal açao é qualificada quando pensada para ter impacto no espaço público, apenas de nào podermos prever se apropriaçao deste sempre será benéfica. Mas o que fazer quando se está sozinho?
Primeiro desmistificar-se no sentido de Glauber, segundo, ao ir à praxis, nao deixando de lado sua teoria, mas casando-a com sua praxis, e isso não de forma desvinculada da realidade, posto que se sua teoria não é práticavel, ou está em outra realidade ou não se quer aceitar o campo de batalha, voltando a esperar o espaço/momento ideal de atuação.
A sua teoria e sua prática, casadas e com possibilidades reais de execução, devem ser levadas com paixão, deve-se ser racional e passional, racional para saber quando parar e passional para tentar até essa última hora. Deve-se perceber se se está como um cão no desrto latindo para as sombras do nada. Deve-se agir sendo coerente e principalmente com bom senso, ter a paixão ponderada pela teoria e a razão. E aqui cabe uma autocrítica, não é necessário ser uma máquina que só age, agir sem pensar é passional ou idiota, pensar sem agir é se omitir, opinião sem ação é o mesmo que nada, é aliás a não-ação o equivalente da açào pelo status quo. Qunado a ação não leva a nada, reflita se politicamente é válido continuar, sendo sincero consigo e com o outro sem soberba, egocentrismos, orgulho exacerbado. E ainda, quando sua reflexão te leva a propôr uma não-ação torne-a pública, é legítimo a não-ação, porém esta será uma não-ação política com expressão no espaço público, não somente no privado.
Parece que levantei aqui um simples manual, mas espero que percebam que tal reflexão se faz necessária principalmente para ser criticada, tanto pelo que posso ter abordado de forma deturpada quanto pelo que não abordei, eou mesmo pelo meu idealismo simplista, entre outros. O espaço virtual "público"da net (limitado pela exclusão digital) possibilita a exposição política dos meus pensamentos, e estes devem ser discutidos neste espaço virtual, que querendo eu adimitir ou não, nos homogeiniza. Tornando-nos iguais, humanos virtuais, veja bem: virtuais e não virtuosos!
E como isto é uma reflexão, reflete um momento pelo qual passo e muito hipocritamente tudo o que escrevi pouco pratico, não saí da crítica, diagnóstico e autocrítica. Não sei se vou melhorar mas, prometo que a minha sensibilidade continuará viva, espero que a de vocês também!
Post sujeito a modificações assim como as teorias, que nunca devem ser rígidas...
Tive a oportunidade de assistir a este filme pouco depois da festa do Oscar. Por sorte , gostei do que vi. O filme traz a trajetoria de um homossexual, Harvey Milk (Sean Penn), num momento em que ele dá um salto qualitativo em sua vida. Não vou aqui discecar o que se passa no filme, para isso, basta lerem sinopses e/ou preferivelmente assistirem. O filme tem uma narrativa simples, o que poderia nos deixar a impressão de que as coisas simplesmente acontecem, que aquela visão certamente romantizada da vida de um homem somente nos encheria os olhos de lágrimas, mas como disse, o filme trata , na minha visão, de um salto qualitativo na vida de uma pessoa. Aliás tal romantismo me fez até ter enteresse em visitar uma daquelas Wikis para saber melhor quem era o homem Harvey Milk. Vi que a biografia era bastante aproximada do personagem, pelo menos em sua trajetória política, não posso responder pelo seu trato com as pessoas e as coisas.
Enfim, o ponto que quero chegar é que, este filme traz a mim, enquanto ser que almeja a mudança drástica de várias coisas no mundo, no modo como as pessoas se relacionam principalmente, a noção de que não me basta ficar maquinando sobre o modo como as coisas poderiam ser melhores, pensando que uma coisa não está sendo conduzida do modo perfeito, mesmo porque este modo perfeito é relativo, o que devemos fazer é AGIR. Milk era, pelo menos o filme me mostra isto, um homem comum, numa sociedade opressora, que legislava sobre sua vida sem ouvír a ele nem a seus iguais, e Harvey sabiamente, após anos de exilio dentro de si, decidiu abraçar a sua propria causa e gritar! Assim, como digo para vcs gritarem, o seu ultimo grito, para quem sabe alguem escutar sua lamúria! Pois devemos ter em nossos míseras mentes que o homem deixa para a posteridade não seus pensamentos mas o que escreve, fala e faz!
PS.: Não estou aqui fazendo juizo de valor sobre o filme, como vêem este comentario nao é uma critica, é antes um simples apontamento.