quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Au Revoir, Brésil!

O Ano da França no Brasil e a perpetuação das poesias sobre a ilustração salvadora francesa
Ato de diplomacia que rege a bem fofucha relação entre o sono capitalista França e o es]terno exótico Brasil. O famigerado "Ano da França no Brasil" além de favorecer economicamente os orfãos de Bonaparte, ainda lança seus braços no mundo das artes Tupiniquim. É ideologia xarope de um lado e utopia babaca do outro, ou vice-versa.
Não tenho muito a falar além de minha experiência recente com duas das novas opções culturais criadas na NY dos trópicos: a cidade de São Paulo.
Dois eventos singulares que fazem gosto à nossas mais tapadas classes sociais: a alta classe burguesa, afrancesados desde o berço, ou a sempre vítima classe média, que sonham com a Cidade-Luz em suas férias e entopem nossas universidades com sua baixa cultura, sua política mostra, suas roupas alternativamente iguais e seus cigarettes que parecem saídos de um filme de Truffaut ou Gogard. Ressalto que não sou um tapado que pensa que o Brasil deve voltar a ser estritamente terra de índios e os brancos irem para a brasa. Isso, apesar de ser um bom ideal, não é para mim algo impraticável e não engrandeceria em nada a humanidade já tão acostumada a genocídios, e sabemos que a história não para e os brasileiros enquanto homens que fazem parte de um mundo divididos por fronteiras nacionais também não pararão.
Também não é xenofobia contra os franceses, que por sinal são ótimas pessoas, e tem muito a trocar conosco, inclusive a Primeira-Dama.
O que critico é a forma acritica como nos apresentamos a eles e que recebemos tudo o que a nós é trazido. Como lhes disse, minha análise é parcial, e se volta para a minha experiência recente com o "Ano da França no Brasil". E agora lhes apresento as opções culturais citadas.

Para a high society paulistana (após ter alegrado a carente high society curitibana):
No MAC-USP Ibirapuera estamos recebendo em grande mostra "Uma aventura moderna - Coleção de Arte Renault", onde a alta sociedade pode se sentir contemplada por não precisar atravessar o Atlântico para os ares franceses.
Sob curadoria da simpática francesa Ann Hindry, a amostra traz artistas consagrados como Arman, Dubufet, niki de Saint-Phale, Erró e Vassarely, com boas propostas de discussão vindas principalmente do setor educativo do museu. A exposição permite uma valorosa discussão sobre a arte e seu papel na sociedade moderna contemporânea, ou pós-moderna para os que preferirem, os impactos da insdustrialização na sociedade ocidental, e ainda, uma discussão sobre o indivíduo nisso tudo. Porém, estas relações partirão dos educadores engajados envolvidos, posto que a curadoria pensa só mo deleite de cores, formas e suportes variados que é o que se discute entre uma taça e outra de Chandon por falta de assunto.


O filme brasileiro "O contador de Histórias" de Luiz Villaça baseado na vida de Roberto Carlos Ramos é mais um dos fatídicos "baseados em uma história real" que mostra como um menino da periferia de Belo Horizonte chega à FEBEM e ao mundo do crime e como é salvo por uma pesquisadora francesa e ascende a uma vida vitoriosa e lúdica como o pronunciado "um dos maiores contadores de histórias do mundo" que leva em si esperança e bons valores ao ser um exemplo de pessoa que foi salva da lógica do crime.
Aqui temos duas coisas importantíssimas para ressaltar: primeiro, o filme apresenta o Estado, assim como a grande mídia dilaceradora de opiniões nos ensina, como uma acumulado burocrático e corrupto, que é um entrave a nossa vida por impedir a lógica do capital de dar a todos a tão importante e necessária igualdade de oportunidades, já que, todos tem um grande potencial e dependemos da iniciativa individual para o nosso sucesso. Ó doce mundo de ilusões... quem dera fosses real. Não se deve confundir um modo de governo com a índole dos que governam.
Segundo, a salvação para o injustiçado pelo governo, é a filantropia privada da burguesia. Ela com sua iniciativa, seu abraço de mãe, salva o pobre preto da lógica da exclusão opressora do Estado, que é insuficiente e já entra na guerra derrotado. Assim a salvação para o Brasil é o liberalismo total. Devemos nos desfazer de um Estado burocrático e avançar no processo de privatização dos nossos serviços públicos. Bela solução, não?
Para fechar o tema "Ano da França no Brasil", nada melhor que contrapor outro negro com outro representante do mundo das Luzes.
A rede de supermercados Carrefour, domina grande parte do comércio de varejo no Brasil, não garante a segurança de seus clientes e tem entre seus funcionários pessoas que subjetivaram o racismo e a noção de que basta ser preto para ser ladrão, e que há um tipo físico antropométrico que permite identificar de longe pessoas que agem de forma ilícita. Os seguranças, que são de empresa brasileira prestadora de serviço, agiram de forma troculenta para defender a imagem de serviço de qualidade Top da empresa, assim pegaram um negro que estava encostado em seu carro enquanto sua família fazia compras na loja e o levaram até um quartinho, onde o espancaram por cerca de 20 minutos.
“Eles falaram que eu ia roubar o EcoSport e a moto. Quando disse que o carro era meu, eles batiam mais.”
Em nota, o Carrefour afirmou que acompanha a investigação policial para que os responsáveis sejam devidamente punidos. É importante ressaltar que quando os policiais militares chegaram ao local, eles também não acreditaram que o cidadão fosse dono do automóvel. "Eles riam e diziam: sua cara não nega, negão. Você deve ter, pelo menos, três passagens pela polícia?." Depois de insistir muito, eles foram até o automóvel, onde sua família o esperava. Após conferir documentos, os PMs foram embora. Estes PMs, parte do famoso braço armado do Estado parecem estar em total sintonia com o serviço não especializado da empresa privada. O que devemos perceber é que estamos numa sociedade em que todos estão concorrendo e o quanto isso é maléfico, e completo que a índole e ação isolada de uns não pode servir de base para rotular uma instituição ou modo de governo.